Todos os dias na mesma mesa, todos os dias o mesmo
pedido e todos os dias a mesma cara entre o mal disposto e o desconfiado. Todos
os dias a mesma gorjeta de umas moeditas sujas e gastas e todos os dias, o
mesmo tossicar antes de pedir a conta, a conta que é igual todos os dias e que
já não devia ser assim tão necessária. Todos os dias, aquele olhar demasiado
concentrado mas tão frio e tão morto, sobre o resto das pessoas do café como se
estivessem a conspirar nas suas costas. Todos os dias, mesmo todos sem
excepção, porque este café nunca fecha. Sempre à mesma hora mais certo que o
próprio relógio do café – entrada triunfante de semblante pesado, olhar cansado
como se aquele espaço já não mais lhe agradasse, mas todos os dias regressava
como se tratasse de uma obrigação que tinha de cumprir sentenciosamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário