terça-feira, 29 de novembro de 2011

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Todos os dias na mesma mesa, todos os dias o mesmo pedido e todos os dias a mesma cara entre o mal disposto e o desconfiado. Todos os dias a mesma gorjeta de umas moeditas sujas e gastas e todos os dias, o mesmo tossicar antes de pedir a conta, a conta que é igual todos os dias e que já não devia ser assim tão necessária. Todos os dias, aquele olhar demasiado concentrado mas tão frio e tão morto, sobre o resto das pessoas do café como se estivessem a conspirar nas suas costas. Todos os dias, mesmo todos sem excepção, porque este café nunca fecha. Sempre à mesma hora mais certo que o próprio relógio do café – entrada triunfante de semblante pesado, olhar cansado como se aquele espaço já não mais lhe agradasse, mas todos os dias regressava como se tratasse de uma obrigação que tinha de cumprir sentenciosamente.

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