domingo, 13 de novembro de 2011
317
As
lágrimas que caem no chão diluem o pequeno rio de sangue que sei que não é o
meu. Na queda vejo rostos conhecidos, também eles em queda – sorrisos perdidos
em vidas que o deixaram de ser e se transformaram nas causas dos outros que não
querem saber de nada das causas. Naquela noite podíamos ter sido tudo o que
quiséssemos ser. Podias ter sido a Revolução de braços abertos a colher no teu
regaço jovens militantes que em ti acreditavam cegamente ao ponto de se
deixarem morrer no teu leito que em tanto é semelhante ao leito do desejo.
Podias ter carregado nas tuas mãos todos os seus anseios e vontades. Podias
tê-los viciados em ti, na luta que foste construindo com tantos e tantos homens
e tantas e tantas mulheres, podiam ter sido mil milhões mas preferiste abrir os
braços e com toda a tua magnânima plenitude em surdina e repentinamente
deixaste-os cair ao longo do corpo. Ao ver-te agora já não te reconheço, já não
te vejo de punho cerrado e erguido clamando frases e discursos que voavam com o
vento e apanham todas as pessoas que te rodeavam.
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