Simplesmente
porque sei onde podes estar, deixei de me procurar nas ruas desertas da cidade
que não me conhece mas me viu nascer. Sou daqui, sempre fui daqui e depois de
tudo que aqui me aconteceu preparava-me para me reconciliar com esta cidade. Sempre
estive aqui aprisionado no teu calor, no teu frio, fustigaste-me com a tua
chuva e poucas vezes quisestes saber de mim. Agora que te tenho de deixar para
trás, olho pelo vidro embaciado do carro e vejo-te triste numa despedida que
nunca teve o seu tempo. As despedidas são sempre assim sem tempo e com muitas
demoras, bem sei. O barulho do motor tenta fazer esquecer-me os teus sons…
cidade minha. Não é pela chuva que vai caindo de encontro à janela e que se
poderia confundir com as minhas lágrimas, não é pela humidade no ar que só me
faz sentir mais só ainda. Para onde me levam? Porque deixo eu que me levem? Não
percebo a inércia destes dias que me deixam estático perante a vida que se
desenrola à minha frente.
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