sexta-feira, 29 de abril de 2011

119

Desenho num papel o inicio de uma linha que se estende até aos teus braços. Escrevo palavras que preenchem o teu coração. Palavras, palavras, palavras sussurradas em tons de vento. Mergulho nos teus olhos à procura de um silêncio que me acolha, de um abraço que me acalme para que quando tudo estiver para acabar as palavras não tenham sido perdidas, em vão.

terça-feira, 26 de abril de 2011

116

De alguma forma nunca foste bem aquilo para a qual tinhas sido esculpida. De alguma forma a tua forma era diferente e o teu coração batia mais depressa que os outros corações. De alguma forma passavas os teus dias na busca dessa forma, que nem tu nem ninguém, sabia ao certo que forma tinha. E de alguma forma te sentias presa nas rectas, nas curvas das linhas que formavam o que eras. Um corpo. Um corpo perceptível em formas mas sem forma visível. De alguma forma tomaste em ti essa disformidade interior, e agora és a forma invisível para a qual foste esculpida.

A "Ginja"

sábado, 23 de abril de 2011

113

Sei de um beijo, de um abraço, às vezes só de um carinho. Sei de um olhar e de um cheiro. Sei das vozes que ecoam nas paredes de pedra que me rodeiam. Já não grito mas também já não respiro. Estou, sou e sei que este mundo não é o meu.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

111


O nosso coração dava um livro. Tocar recortes multidimensionais da tua pele como quem sente o sabor das páginas enquanto uma suave brisa nos percorre as emoções. A alegria de abrir um livro pela primeira vez e sentir o cheiro das tintas. Ver-te dia após dia e sentir o cheiro dos teus cabelos, do teu corpo enquanto te a.........fastas deixando para trás uma só 

palavra. 


Saudade de ti acalmada pelo traço da caneta sobre o papel.

terça-feira, 19 de abril de 2011

109


Suspiro. Respiro, flores do meu desejo. Corpos afastados pela largura do tempo, o teu rosto em todos os olhares. Ansiedade e vontade. Saber que não vais chegar mas continuar a esperar-te. Vivem-se assim o dias que passam ao sabor do vento. Esquece o beijo e traz-me só a cor dos teus olhos e um pouco de calor contido num abraço.

domingo, 17 de abril de 2011

107


Nas manhãs submersas de prazeres e cheiros característicos de lugares que pensava conhecer em ti perdia-me constantemente. Largava o prazer do sossego das réstias de calor que deixavas para trás e arriscava palavras que nunca ousei dizer. A dificuldade em repeti-las deixa-me cego... mas continuo a ver-te em todo lado e sinto-me mudo.

sábado, 16 de abril de 2011

106

Há em mim a vontade, de em ti, excluir do corpo a permanente dor de um passado de paixão solitária. No entanto, a construção detalhada de passos seguros, destrói para mim a estética por mim criada da paixão e por consequência da sua dor. A paixão segura equilibra apenas a vida vulgar, arruína a contemplatividade do sofrido desejo e a sua concretização em linhas puras de carvão. Quanto mais respiro ao teu lado, mais se perde o cheiro da tua pele, desvanece a linha crua da tua mão e me sufoca a calma desta raiva-paixão.

terça-feira, 12 de abril de 2011

102

Talhada na paixão inútil, a minha arte é cultivada na imaginação da suposição. A rejeição da realidade faz parte do meu processo auto-destrutivo e o portanto da minha criação. A tomada física, real da minha dor, é resultado do amor que tenho à mentira na vida.

sábado, 9 de abril de 2011

99


Todas as recordações são marcas de lágrimas que por ali passaram. As tuas palavras estilhaçam a minha solidão em pequenos vidros de alegria. Corto-me e sangro sobre eles. Deixo que a curva dos teus braços seja a curva do me coração, porque no final o que resta... apenas a ilusão de amor!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

97


Os ruídos vão desaparecendo e sei que a cidade começa a adormecer. Nas paredes do meu ser ouço as palavras que teimam em não me largar. É nas noites mais escuras, onde nenhuma luz ousa entrar que mais sinto o peso da tua voz. Coisas escritas em papéis desavindos que nunca chegarão a ver a luz dos teus olhos. Verdades ditas em tinta que provavelmente nunca serão vistas. A vigília mantêm-se.

terça-feira, 5 de abril de 2011

95

Se o coração pudesse soltar a voz e se a voz pudesse largar o gesto, que palavras poderia usar para explicar... como explicaria algo que não se simplifica e só se complica. Como se explica o odor dos cabelos que se entranha nas mãos e nos adoça a vida como frutos acabados de colher. Como se explica o brilho dos olhos que nos cegam cm luz do sol. Como se faz?...

domingo, 3 de abril de 2011

93

Não estava a dormir quando acordei e dei por ti. O meu tempo estava triste e cansado por ter feito tão grande corrida, por nem eu o ter visto passar, como sempre, estava na hora de fazer alguma coisa. Mais tarde dei por ti no meio da minha vida. São milhares de ponteiros perdidos, fios do teu cabelos, perdem-se do tempo e riem-se quando encontram as minhas mãos. Cheiram ao tempo quando me ensinou a morar entre o Outono e a Primavera, quando me ensinou a esconder-me debaixo do teu corpo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

91


[Podia ter a tua fotografia aqui]

Podia simplesmente dizer-te que não te amo.
Podia dizer que as mãos não estremecem quando sentem o calor do teu corpo.
Podia dizer que os ouvidos não ensurdecem para o mundo quando falas.
Não gosto de te ouvir cantar!
Podia dizer que não gosto de te ver, de te sentir.
Podia dizer que não és real e que não suporto a tua presença mesmo quando não estás aqui.
Podia dizer tudo... e no fim dizer-te que hoje é 1 de Abril!