sábado, 26 de fevereiro de 2011

57


Não gosto da ingenuidade das palavras: "para sempre" e às vezes sinto que há uma necessidade constante de infelicidade para que me possa sentir completo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

53

Chuva temporal. Tempo terminal. Monstros na cabeça e macaquinhos no sótão. Cansaço no olhar e um sopro que me faz sempre acordar. Brisa de um beijo que tarda em chegar em troca de braços cheios de abraços.
Ao fechar do dia sempre a memória de um barco no porto, esquecido sem ninguém para navegar e tanto mar por conhecer.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

51


Tenho o cheiro do teu abandono marcado em mim. Utopias de sentidos que não sabem o que fazer com as realidades. Ciúmes de beijos entregues noutros tempos, saudades de os ter agora. Tenho problemas de expressão pela dispersão das palavras. Lágrimas desesperadas que correm rumo ao deserto não sabendo como vai ser o seu fim, por vezes precocemente esmagadas na ponta de um dedo. Hoje apetecia-me esquecer o resto do mundo, fazer de conta e brincar com os teus cabelos. Hoje podia ser um dia diferente. Hoje não vou chorar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

49

A mão que conta a história perde-se entre linhas que o fazem descarrilar no caminho entre estações. A mão que passa pelo papel que anseia ser preenchido e o corpo que fica bem junto de um outro corpo. Uma respiração ardente e dolorosa. Um mundo que não pára de girar num segundo do teu perfume, a tempestade que acalma o mar de sentidos num suspirar que se segue de um sorriso que gostava de chamar meu. Uma menina tornada mulher.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

47

Uma gota atrás de outra e a água que se move. A água que enche os rios e marca os rostos. Perde-se o sabor do sal da tua boca. Pressente-se uma verdade entre corpos que procuram a luz de um pensamento que atravessa um roseiral sem espinhos e que espalha com o vento os aromas da loucura.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

44

Adias o coração para outro século, para um outro instante, outro clique. Esperas sem esperar, porque o adiar é a opção que as tuas idas à solidão confortam o conflito com o espelho. A tua sadia mente encobre o coração seco e quebradiço, que à dias julgou encontrar o seu remédio na relação com a ausência.
“Sans toi, les émotions d´aujourd´ui ne seraient que la peau morte des émotions d´autrefois”

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

40

Gosto quando estás em casa. Quando te sentas sobre ele e fazes vibrar aromas em nosso redor. O vibrar da Lavanda e da Faia, dos Mirtílios e da Doce-lima. O retorno à minha infância afinado ao cheiro de Rebuçados. Gosto, quando fazes do silêncio da tua noite e da minha vida, o vibrar do cheiro do Bosque e da Brisa do Rio. Nesse momento, que partilhamos a nossa incapacidade de compreendermos o mesmo acto, eu ouço o que tu és incapaz de cheirar mas que é a mais bela melodia olente que tu crias, quando estás em casa.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

39

Cada gota de chuva é um pedaço de tempo que passa pelo meu corpo. Deixo-me molhar e gosto de sentir o frio das gotas a escorrerem no meu rosto. Sabem bem essas linhas de água que riscam formas em mim. Perco-te na multidão de gotículas, resta-me apenas uma sombra de ti e quando tento chamar-te a voz não chega para passar por esse tempo entre nós.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

37


Pára e olha à tua volta
Quem vês?
Ninguém…
Impossível

Pára outra vez
Esta bem mas não prometo nada!
O que ouves?
Nada…
Impossível

Só mais uma vez?
Está bem.

Pára!
Já estou parado, ainda não me mexi.
O que sentes?
Nada…!
Impossível! Nem uma pequena revolta?
Nem uma vontade de gritar?
Nem uma vontade de fugir?

Não sinto nada, já te disse. Estou parado, deve ser por isso.

Então mexe-te. Ordeno-te que te mexas!

Não consigo…!!!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

34

Conheço uma rapariga. Ela não é bem uma rapariga, porque os seus olhos não são botões, nem os seus lábios um fino traço de linha corrida. Mas ela também não é uma boneca, porque os seus cabelos não são cor-de-lã e o coração não são retalhos de velhas mantas que um dia usou para se aquecer. Talvez eu não conheça essa rapariga, mas conheço a casa com que casariam os botões dos seus olhos se ela os tivesse.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

33

O teu corpo é sal que me corrói lentamente e que me atrai no pecado dos sabores. És como uma onda da frente da maré sempre pronta a irromper pela praia dentro. Vai e vem. Uma agitação sem controlo, uma dor profunda sem remorsos. O teu corpo é sal e eu sou terra. Gostava de saber melhor como te guardar e conservar-me.