domingo, 31 de julho de 2011

212

Foi a partir de uma frase dita, no momento do meu nascimento, que se determinou o meu papel principal no mundo.

"É uma rapariga!"

sábado, 30 de julho de 2011

211


Estou triste, apagado deste mundo. Rio sem sinceridade, minto com franqueza. Na verdade nunca me importei. Só hoje... porquê hoje?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

209


Eram músicas, era relva e jardins. Era a tua voz doce cortada por outros sons. Era abraço, beijo e cheiro. Era o toque subtil de uma mão, uma flor no cabelo. Era a ponta de um sapato que me tocava na perna. Eras tu chegar. Um dia deixaste simplesmente de ser.

terça-feira, 26 de julho de 2011

207

Tenho letras espalhadas em cima da mesa. E não consigo formar palavras com elas. Dou por mim sentado, em frente à mesa, com as mãos pousadas no A mais próximo. Há um R ali, ao canto da mesa, mas eu nem o consigo alcançar...nem me consigo alcançar. Tenho os olhos postos num amontoar de letras, sem ligação ou alinhamento ou ordem, entre elas. Nenhuma brilha. Letras baças, espalhadas em cima da mesa. E a minha mão a tocar num A qualquer. 

Onde estás?

domingo, 24 de julho de 2011

205

Tentei lavar-me do teu cheiro mergulhando no rio. Afastar-me do teu olhar. Procurei na cidade uma rua sem o teu nome mas só encontrei lembranças de ti. No fundo sei que a vertigem da excitação se destruirá e depois de passar a tortura da terra e se aproximar a serenidade do céu e do pensamento temeroso, os dias terão a corrente da solidão gravada nas suas margens.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

203

Engolido no tempo duma solidão suprema e contente, ignoras as pegadas no areal imenso e desconhecido. Perdido e feliz nas noites ausentes de astros e de deuses como a primeira criatura que pensa não o sabendo. Eis tu, longe, amando com excesso. Numa saudade eterna e livre.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

201

«One can know a man from his laugh, and if you like a man's laugh before you know anything of him, you may confidently say that he is a good man.» Dostoyevsky

Desta noite como outra noite qualquer nasce um alguém ainda à espera de saber quem é. Desta noite como em tantas noites as árvores agitam ramos ao vento que passa, um casal troca um último beijo sem saber o que os espera no dia seguinte, um sem-abrigo continua a sua rota nocturna recheada de um quotidiano demasiadamente repetitivo e familiar. Nesta noite ao som desta brisa que faz com que uma janela bata de levezinho sempre que ali passa o sopro, uma mulher encolhe-se um pouco e procura o calor do seu companheiro. Esta noite como tantas outras nasceu de um dia em que pessoas trocaram olhares, em que pessoas trocaram sorrisos, em que pessoas deram as mãos. No fim desse dia algumas cruzaram os seus corpos em danças invisíveis, chegou-lhes a satisfação de um sorriso aberto que recebe em troca um olhar doce de uma menina de olhos grandes que é agora, no fim do dia, uma mulher. A noite depois do dia e o dia depois da noite vão continuar a sê-lo. Na noite há tantas histórias que vão ficar guardadas esquecidas nos paralelos de uma rua que não é minha. De dia algumas dessas histórias vão ser gravadas em papel, tinta despejada em desenho de letras que vão contar segredos. O barulho das folhas e o crepitar de quando mais uma página se vira vão ser o testemunho perpétuo de outras tantas histórias. Desta noite resta uma ideia - continuar. Escrever, descrever, ter prazer e dar prazer, sonhar, gostar, amar e contar aqui, para ti, para mim, para quem quiser ler e ouvir. Deixar palavras à solta em frases que nem sempre vão fazer sentido. Escrever porque é sempre mais simples deixar algumas verdades em papel.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

199


A ausência da palavra conduz rapidamente à ausência dos corpos. Sem saber como interagir rapidamente se esgota a vontade e os sentidos desligam-se do real. Os sentimentos fugiram sem destino...

domingo, 17 de julho de 2011

198

É nas palavras que encontro o primeiro agente da minha opressão. É nos termos que elas compõem, nos conceitos que elas constroem que encontro os meus inimigos. São elas que me oprimem, que me amarram e me tentam definir. Mas eu não sou palavra...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

195

São dias partilhados na facilidade de um abraço, palavras que se compreendem sem serem ditas. Cumplicidades marcadas por letras adiadas que pairam sobre as cabeças e caem desamparadas no coração. Pede-me o tempo e dou-te um abraço. Pede-me paz e dou-te um beijo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

193

No fim do dia há sempre aquele momento em que a chave entra na porta e esperamos que um mundo novo se mostre. Conscientemente sabemos que nada muda, que nada se altera só pelo bater da porta ou pelo rodar de uma chave. No fundo do coração uma esperança que tudo aquilo que desejamos possa estar de repente ali naquele santuário de vida. No fim do dia o que seria mesmo bom era o teu par de braços, o teu calor e os teus cabelos a penderem nos meus ombros - abraço é assim que se chama. Simples e tão complicado. Sempre complicado aquilo que sabemos ser simples.

domingo, 10 de julho de 2011

191

Se algo explodisse de repente com força tal que ao passar por cima dos nossos corpos afastasse as nuvens... o calor que nos invadiria os corações semelhante a um dia quente de verão. As batidas do coração sentidas na barriga e um incómodo na cabeça. Hoje podia ser o primeiro dia do resto das nossas vidas.

sábado, 9 de julho de 2011

190

Porque de todas as tuas pequenas coisas é o teu sorriso aquele que me assusta mais. Por ser tão belo e doce, se é que o sorriso pode ser doce ou amargo, mas se pode ele é isso e mais do que isso. Ele é quente, calmo e malandro É curioso, maduro e desconfiado É inteligente e sincero É desenhado na perfeição de todas as linhas alguma vez desenhadas. O teu sorriso inspira-me e faz-me expirar em também linhas. Na busca da reprodução perfeita desse teu traço, curto simples - que mais uma vez te digo – perfeito!

Mas o que ele tem de majestoso tem também de assustador. Por ter sido por ele que te vi, e por ter sido por ele que te reconheci, é também por ele que temo. Porque de tanto o adorar, nada mais temo que o fazer algum dia desvanecer uma sombra mal aplicada.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

189


Na verdade sempre pensei que se mudasse de local eu próprio mudaria. Sair da cidade e cortar de vez o cordão umbilical, entrar em ruptura com o eu. Caminhar para outro local que ainda não sabia muito bem qual. Tinha que deixar um traçado de abandono e encontrar-me num local que nunca poderia chamar de casa. A procura da felicidade como objectivo máximo de uma vida sem traços de perfeição ou de marcas consideráveis - uma vida média cheia de meias medidas. Hoje sei que não. Enganei-me ao pensar que poderia mudar mudando-me. Nunca deixei que alguém me descobrisse e nunca consegui descobrir alguém que o conseguisse fazer, apesar de muitas tentativas muitas pessoas falharam. Falhei para elas e deixei que o tempo me arrastasse nas ondas de uma vida que não consigo definir. Há um não percurso, há um não destino, mesmo vivendo no país em que fado não tem tradução e a fatalidade cedo nos atinge deixamo-nos corromper pela infelicidade plena. Nunca ninguém está completamente bem ou o dia nunca está suficientemente bom. Podia ser um motor para um pessimismo construtor de algo mas pelo contrário é um inibidor de acção que nos adormece lentamente, mesmo aqueles que tentam resistir acabam por resistir já dentro deste ciclo vicioso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

188

Uma vez por dia decido viver sem sentimentos. Uma vez por dia faço o esforço de te esquecer. Depois decido fazer uma coisa mesmo estúpida. Esqueço-me do que te queria dizer.  

Espero, espero-te.  

Encontra-me!

terça-feira, 5 de julho de 2011

186

Há um conhecimento descritivo que não permite especulações. Uma equação onde ele não está, estando no meio de nós. Invisível na sua perceptibilidade, a sua ideia supera o facto e ri no conjunto das suas liberdades ortonormais que são contundo, auto-destrutivas para quem o contempla. A sua contemplação expande, além do infinito, a percepção comum de cada ser da sua condição, da sua realidade, e o arrasta para o fim do principio do riso trágico. É impossível escapar a sua preensibilidade sobre a nossa dimensão.