quarta-feira, 30 de março de 2011

89


Há pedaços de ti no poemas soltos que encontro nas páginas dos meus dias. Deixo que os meus dias amareleçam nas páginas do tempo. Gostava de te poder surpreender com palavras novas todos os dias. Sussurrar-te nos ouvidos versos de amor pintados em lápis de cera. Ter poesia à solta nos nossos lábios enquanto os beijos acordam um dia que acaba de chegar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

87


No acalmar de uma tempestade fica sempre para trás a sensação de algo inacabado. O beijo que ficou por entregar sufoca as lágrimas num silêncio que me consome. Os olhares comprometidos numa dança de mãos que não sabem onde se cruzar. É a tua voz que se transforma numa melodia surda que acalma os restos de tempestade num simples raiar de emoções. Repentinamente fez-se noite, o mundo desmoronou e o teu sorriso... será sempre belo.

sábado, 26 de março de 2011

85

Sementes de ventos, flores por colher, primaveras por viver. Anos e anos que passam por acaso sem acaso. Sentidos largados como palavras. Sentimentos aquecidos num sol interior. Espera-se que algo cresça. Espera-se, às vezes, demasiado. Gostava de te colher nas mãos como frutos, sentir nos teus lábios a frescura no verão... levar-te comigo em passeios à beira-mar. Deixa-te amadurecer ao meu lado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

83

O teu corpo é sal que me corrói lentamente e que me atrai no pecado dos sabores. És como uma onda da frente da maré sempre pronta a irromper pela praia dentro. Vai e vem. Uma agitação sem controlo, uma dor profunda sem remorsos. O teu corpo é sal e eu sou terra. Gostava de saber melhor como te guardar e conservar-me.

segunda-feira, 21 de março de 2011

80

Porque entre sonhos e pesadelos, existem sempre imagens que merecem ser descritas, sonhos que merecem ser conservados, afirmações que merecem ser pensadas e segredos que merecem nunca ser revelados.

sexta-feira, 18 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

76

Vivemos de contrários semelhantes. De forças inúteis que nos proclamam identidades, baseadas em história. Respondemos numa fina frequência materialista construções sociais de liberdade para pensar o Amor. Mas esse Amor, será sempre uma opção vital e não uma demonstração racional. Absolutizamos o nada e transmutamos todos os valores, sempre, na perene repetição do seu idêntico. Violento e inutil. Amor.

quarta-feira, 16 de março de 2011

75

Para além das palavras, adorava beber dos teus lábios um pouco de amor. Sentir o doce e o amargo do correr dos dias mas saber sempre que estarias pronta para me receber. Um sorriso largado ao acaso que vai tomando conta de mim é já uma gargalhada que me provoca dor de tão intensa que é. As palavras, essas continuam soltas e atrapalhadas correndo entre nós de um lado para o outro até ao dia em que se encontrem.

sábado, 12 de março de 2011

71

Vou só ali espreitar onde ficou a minha cidade. saber o que foi feito de mim neste tempo em que me deixei adormecer da realidade. Vou só ali num instante... não porque tenha pressa. Sei que não posso mais voltar ao lugar onde estava. A cidade não voltará a ser como era antes. Nós nunca mais seremos os mesmos. As ruas vão continuar a saber dos nossos passos e as paredes das nossas vozes. Mas a cidade essa sabe que há coisas que mudam.

terça-feira, 8 de março de 2011

67

O sono fugiu-me da noite para o dia. A noite quer ser lida e o dia dita-me para o escrever. O cansaço espreita, constante, os olhos pequeninos brilham-lhe cerrados na agitação, querem uma pele que possam vestir. Não vejo o fundo escuro da noite, não vejo o fundo escuro do mar, com nenhum deles lutarei. Não tenhas cuidado, não tenhas medo do meu cansaço, acreditar é assim, um gesto completo do corpo inteiro, um mergulho contra a parede negra do lago, voar contra o cimento e atravessa-lo pela porta aberta entre os dedos da tua mão. Aqui não há cinzentos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

66

Carta de amor à Catarina

E num instante, como sopa instantânea todo um aeroporto se levanta. Sabes que odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio voar, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, odeio, voar, voar, voar, voar, voar, voar, voar, o ar! Mas gosto de estar suspensa pela ponta de uma corda amarrada ao coração. Para a próxima dou corda e vou, e voo. Se o amor é ir, de avião não será de certeza. Talvez no comboio das oito, ou a pé. Mas nunca será mais a voar.
Amor é ir? para onde, porquê?
Só ir? e ficar? deixar de ir...deixar ir? amor é sem duvida deixar ir. Amor é acordar o desconhecido do lado para que ele, ao contrário de mim, não perca o voo.
Amor é dar a mão à mulher estranha o quando o avião abana.
Amor, amor, amor, amor....
Amor é cheiro de meia de leite.
Amor é saber que deixamos saudades, que levamos saudades.
Amor é saber que existem braços abertos de onde viemos e para onde vamos.
Amor é aquele cigarro na tua varanda, é aquele shiiiuuuu é segredo.
Amor é uma torrada, com manteiga ou queijo, mas torrada.
Amor é ir e vir, não por ti, não por mim, mas por todas as pessoas do mundo.
Amor é fazer check-in para o mundo.

domingo, 6 de março de 2011

65

O vento empurra com o sopro uma folha que se vai dobrando e curvando ao sabor de uma dança sem música. Entretanto eu já não sou aqui. A cabeça deitada sobre o ombro, o cheiro que há de ficar para sempre e o braço pelas costas, o lugar certo porque é assim, como se estivesse arrumado na gaveta dela.

quarta-feira, 2 de março de 2011

61

A velocidade que leva o pensamento até à palavra chega a ser estonteante e incapaz de transmitir a realidade do que se passa realmente no interior, no local onde tudo se produz. Os sentimentos dilatam-se com demasiada facilidade e apoderam-se da massa muscular interior que palpita e bombeia a nossa vida. O meu pensar é o meu sonhar, aquele que não tenho quando fecho os olhos e tento adormecer. Impacienta-me a velocidade com que as ideias surgem e a não capacidade de as conseguir escrever todas. Um dia disseram-me: "és um sonhador". Ri-me e rio-me sempre que me lembro disso. Sentir esse sonho é sentir a minha essência, sentir o meu estado profundo. Falo para mim e escrevo para ti. Escrevo palavras que não sabes entender e que talvez nunca cheguem a ver a luz do dia. Escrevo de noite porque é de noite que os sonhos se concretizam. Se as palavras retocam a realidade então não quero ter palavras. Quero sentir. Quero ouvir aquela música que te traz na melodia e quero sentir o desejo de te desejar. Ouvir o vento e nele sentir o teu perfume. Deixar que a brisa fria se encoste a mim e me aqueça o coração enquanto esfria as minhas mãos descobertas que tremem enquanto a caneta desliza louca sobre o papel. Quero sentir a dança de dois corpos que se atraem e se afastam numa valsa lenta que ocupa a cidade triste. Quero tudo e quero-o já porque gostava de no fim poder fechar os olhos e adormecer. Fechar os olhos e de não ter que na penumbra da escuridão encontrar aquela luz que desenha o teu rosto em linhas de luz que me cegam. Somos fotografias banais do nosso próprio incêndio interior e eu... Eu só queria mesmo fechar os olhos e adormecer. Deixem-me dormir se não me deixam amar.