quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

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Palavras que nunca ficaram escritas e que nunca te foram ditas. Palavras que só na minha cabeça tiveram o seu espaço e a sua coragem. Na verdade são conceitos que nunca chegaram sequer a existir. Nunca viram a cor dos teus cabelos com o brilho do sol, nunca viram como são os teus olhos. Palavras que não são escritas não existem. São como bombas que nunca chegam a explodir. Dos cadernos, agora esquecido, arrumados em prateleiras poeirentas e em caixas de sótãos, saltam ainda raras vezes algumas palavras. Essas que conheceram o negro da tinta e o peso do papel suave em que deslizavam rumo a uma liberdade que parecia querer liberta-las quando na verdade só as estava a aprisionar num sitio diferente. Cartas escritas de um remetente demasiado assustado com o que as palavras lhe sussurravam ao ouvido. Cartas de uma só direcção, sem caminho feito, sem conhecer o peso do selo. Um destino que nunca souberam qual era, uma pessoa sem nome. As palavras nas cartas nunca se denunciaram. Conheciam-lhe o cheiro e o gesto, o sabor das palavras mas nunca souberam o seu nome.

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