quarta-feira, 2 de março de 2011

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A velocidade que leva o pensamento até à palavra chega a ser estonteante e incapaz de transmitir a realidade do que se passa realmente no interior, no local onde tudo se produz. Os sentimentos dilatam-se com demasiada facilidade e apoderam-se da massa muscular interior que palpita e bombeia a nossa vida. O meu pensar é o meu sonhar, aquele que não tenho quando fecho os olhos e tento adormecer. Impacienta-me a velocidade com que as ideias surgem e a não capacidade de as conseguir escrever todas. Um dia disseram-me: "és um sonhador". Ri-me e rio-me sempre que me lembro disso. Sentir esse sonho é sentir a minha essência, sentir o meu estado profundo. Falo para mim e escrevo para ti. Escrevo palavras que não sabes entender e que talvez nunca cheguem a ver a luz do dia. Escrevo de noite porque é de noite que os sonhos se concretizam. Se as palavras retocam a realidade então não quero ter palavras. Quero sentir. Quero ouvir aquela música que te traz na melodia e quero sentir o desejo de te desejar. Ouvir o vento e nele sentir o teu perfume. Deixar que a brisa fria se encoste a mim e me aqueça o coração enquanto esfria as minhas mãos descobertas que tremem enquanto a caneta desliza louca sobre o papel. Quero sentir a dança de dois corpos que se atraem e se afastam numa valsa lenta que ocupa a cidade triste. Quero tudo e quero-o já porque gostava de no fim poder fechar os olhos e adormecer. Fechar os olhos e de não ter que na penumbra da escuridão encontrar aquela luz que desenha o teu rosto em linhas de luz que me cegam. Somos fotografias banais do nosso próprio incêndio interior e eu... Eu só queria mesmo fechar os olhos e adormecer. Deixem-me dormir se não me deixam amar.

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